segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Coluna do Aquiles, o CD de Sérgio Sampaio


O bloco volta à rua

        O LP Sinceramente, de Sérgio Sampaio, lançado de forma independente em 1973, está de volta à praça. Se por acaso você, leitor, acha que nunca ouviu falar de Sérgio Sampaio, tente cantarolar este refrão: “Eu quero é botar meu bloco na rua/ Brincar, botar pra gemer/ Eu quero é botar meu bloco na rua/ Gingar, pra dar e vender”. Lembrou? Pois é... Sérgio Sampaio arrasou nesse baita sucesso.
        Logo após o estouro nas vendas do compacto que continha “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, apresentada no VII Festival Internacional da Canção da TV Globo (1972), e não conseguindo igual êxito comercial nos três LPs que vieram a seguir, Sampaio foi tachado pela indústria fonográfica de “artista difícil” e pela mídia de “autor maldito”.
        Seu primeiro LP (1973) tem como título o mega hit Eu quero é botar meu bloco na rua. Em 1976 veio o segundo: Tem que acontecer. E, relançado agora em CD, Sinceramente (1982) foi seu terceiro e último long play solo. Com onze músicas suas, sendo uma (“Cabra Cega”) em parceria com Sérgio Natureza, Sampaio abriu o peito e demonstrou o quanto sua alma estava dilacerada. Os tempos andavam bicudos...
        Contando com a participação talentosa de Renato Piau (pianista e parceiro de Sérgio Sampaio desde sempre), Zezinho Moura (piano elétrico), Ricardo Feijão (baixo), Charles Chalegre (bateria), Oberdam Magalhães (sax e flauta), Luciano (arp strings), Serginho Boré (percussão) e com o violão acústico de Sérgio Sampaio, Sinceramente (Saravá Discos) se revela um CD bem remasterizado, cujo som tem brilho e profundidade.
        Além de samba, boleros e canções, o álbum tem baladas que despretensiosamente namoram o brega, sem, contudo, permitir que se lhes pespeguem tal adjetivo. Pois elas lembram, na verdade, a pujança transformadora das baladas que Raulzito tão bem difundiu e Sérgio adotou.
         “Essa Tal de Mentira” é uma canção na qual a boa voz de Sampaio é embalada pelo som dos violões (um improvisa, enquanto o outro harmoniza) e do baixo. Os versos ecoam seus sentimentos: “Com a alma partida/ Dando com o corpo nas grades da cela da vida/ Como num mar de paixão/ Náufrago que estende a mão/ Agarro o meu violão/ E canto uma canção”.
        Luiz Melodia divide o canto com Sérgio no samba “Doce Melodia”, homenagem de Sampaio a Luiz Melodia. Divertidos e cheios de ginga, os dois se esbaldam e esbanjam malandragem.
        O violão começa “Nem Assim”. A voz de Sérgio vem firme, entoando as dores da separação, mas tudo com muito bom humor.
        Em “Sinceramente”, a música que dá título ao disco, os violões acompanham a voz que vai aos agudos para cantar notas da melodia. Os versos são um louvor à independência, no sentido mais amplo do termo: “Não há nada mais tranquilo/ Do que ser o que se sente/ E poder amar, perder, chorar/ Depois ganhar/ Assim sinceramente”.
        Vítima de pancreatite, Sérgio Sampaio nos deixou em 15 de maio de 1994. Mais um dos grandes compositores que a música brasileira perdeu para o alcoolismo. Pena.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

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