segunda-feira, 20 de junho de 2011

Coluna do Aquiles, a ópera popular de Chico Maranhão

O brilho da nação maranhense

        Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho nasceu em São Luís do Maranhão. Ao completar dezoito anos, desceu para São Paulo. Cursou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Influenciado pelo ambiente musical da época, fez-se compositor e violonista. Àquela altura, conhecido apenas como Maranhão, tocou violão na premiada montagem de Vida e Morte Severina (1968), de João Cabral de Melo Neto, cujos versos Chico Buarque musicou.
        Participou do terceiro Festival de Popular Brasileira (1967) da TV Record, onde conquistou o sexto lugar com o frevo “Gabriela”. Para avaliar o valor do feito, lembremo-nos de que nesse festival Edu Lobo e Capinan conquistaram o primeiro lugar com “Ponteio”, Gilberto Gil ficou em segundo com “Domingo no Parque", Chico Buarque, com “Roda Viva”, ficou em terceiro e Caetano Veloso (“Alegria, Alegria”) chegou em quarto.
        O tempo passou e Maranhão voltou para casa. Virou Chico Maranhão e tratou de fazer valer seu amor por sua terra, nomeando-a Nação do Boi. Fez-se um estudioso cultural e aprofundou seu olhar amoroso sobre a cidade de São Luís, o que o levou a escrever o livro Urbanidade do sobrado, um estudo sobre a arquitetura dos sobrados da antiga São Luís.
        Compositor instintivo, mas com rara sensibilidade, Chico Maranhão, em seu retorno, logo se dedicou a um disco de fôlego: Ópera Boi – O sonho de Catirina, uma ópera popular em um ato.
        No CD (independente, com apoios diversos), Chico Maranhão disseca o espírito do bumba-meu-boi maranhense; demonstra suas variantes; espicaça suas intenções; chama atenção para a força do boi no imaginário da gente maranhense. E isso não é pouca coisa, não! Trata-se, isso sim, de uma obra de referência para os que acreditam que é através da cultura e suas manifestações populares que o Brasil assume sua verdadeira cara como nação.
        Ópera Boi – O sonho de Catirina principia com um tambor de crioula. A marcação rítmica é tão forte como potente é a voz feminina que entoa versos ricos em imagens. Ao final, surgem cantos de passarinhos, em satisfeita harmonia com as cordas que remetem a um canto litúrgico. Vem um polichinelo para alegremente anunciar a chegada do circo. Os lavradores Catirina e Francisco conversam.
        Cinco cantatas têm ritmo de matracas, pandeirões e chocalhos, em comunhão com cordas, violão, teclado, sopros e flauta, resultando em saborosa mescla de sons múltiplos. Ao misturar a consistência da arte popular com a fortuna da música erudita, a simplicidade musical do trabalho cativa.
        E vêm surgindo em cena o amo e senhor, os Rajados, os “Tapúios” e os Cazumbás. É o povo cantando, dançando o passo e a sua dor ancestral.
        Os solistas, o coro, o batuque e o cordão tornam vivo o boi. E nele, São Luís e o Maranhão se agigantam e se tornam ainda mais fortes e pertencentes àquela uma gente que os ama incondicionalmente.
        Trabalho de um verdadeiro amador, a ópera popular de Chico Maranhão tem na emoção e na sinceridade a bela tônica.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

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