O chansonnier do século 21
A voz é doce, encorpada; o timbre, grave, agradável; a afinação, acurada; as divisões rítmicas, cuidadosas; a pronúncia, impecável; a instrumentação, concisa; e, no repertório, canções francesas (a maioria), americanas, italianas e brasileiras – estas últimas, vertidas para o francês. Eis um breve resumo das potencialidades de Fábio Jorge e de seu disco Chanson Française 2 (Lua Music).
Paulistano, filho de pai brasileiro e mãe francesa, o chansonnier do século 21 se desvelou para produzir um trabalho que lança aragem fresca sobre a música francesa, aquela que, de tempos em tempos, recupera seu lugar de destaque no cenário musical internacional.
Produzido por Thiago Marques Luiz, o CD traça um sábio caminho que transforma em francesas músicas de Gonzaguinha, “Jeu de Blâme” (“Grito de Alerta”); Dolores Duran e José Ribamar, “Tendrement”, (“Ternura Antiga”), estas duas com versões de Fábio Jorge; Edu Lobo e Torquato Neto, “Adieu” (“Adeus”), versão de Cauby Peixoto; Matteo Chiosso e Giancarlo Del Re, “Parole, Parole”, versão de Michaele; Burt Bacharach, “Les Yeux de L’Amour” ("The Look of Love”), versão de Gérard Sire; Arnold Goland e Jack Gold, “Comment Te Dire Adieu”, versão de Serge Gainsbourg.
E faz delas irmãs consanguineas das de Charles Aznavour e G. Garvarentz, “Les Plaisirs Démodés”; J. Dréjac e Michel Legrand, “L’Été 42”; Alain Barriére, “Ma Vie”; Michel Legrand e Francis Lai, “Je N’Attendais Que Toi”; Françoise Hardy e Tuca, “La Question”; Michel Vaucaire e Charles Dumont, “Non, Je Ne Regrette Rien”.
“Ma Vie” inicia o disco. Com apenas o piano de Gustavo Sarzi a acompanhar Fábio Jorge, e arranjo de Thiago Marques, o clássico ganha dramaticidade.
Piano e bongô (Nahame Casseb) começam “Tendrement”. Inspirado por Dolores Duran, Fábio interpreta e comove. O violão de Ronaldo Rayol (também arranjador) toca belo intermezzo. É quando Cida Moreira chega para participar, (en)cantando a letra em português.
Tuca, cantora paulistana que, antes de se mudar para Paris, fez sucesso no início dos anos 1960, escreveu os versos de “La Question”. O violão de Rovilson, o baixo acústico de Eric Budney e o piano de Daniel Bondaczuk (arranjador) dão suporte à voz de Fábio para que ela seja terna, como pede a melodia de Françoise Hardy.
É hora de Cauby Peixoto cantar com Fábio Jorge sua versão para “Pra Dizer Adeus”. Meu Deus! O violão de Ronaldo Rayol, também arranjador, remata a entrada. Envolto em suave reverber, FJ começa o canto. E vem a segunda parte; com ela, o mestre e seu discípulo se emaranham na teia da emoção.
O piano toca. Fábio canta. O acordeom de Irene Mutanen surge. O baixo acústico dá ardor ao arranjo de Hanilton Messias. Logo, Silvia Maria acrescenta luz a “Je N’Attendais Que Toi”.
O piano de João Carlos Assis Brasil toca “L’Éte 42”, fecha o CD e resume o espírito buscado com sucesso por Fábio Jorge: com sua bonita voz, enaltecer a música francesa, por tantas vezes incompreendida.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
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