Clarinete e violão nas mãos de dois virtuosos
(Aquiles Reis*)
Está na praça e, como diziam os do meu tempo, também nas melhores lojas do ramo (ao menos deveria estar), uma joia em disco instrumental, que reúne dois grandes músicos brasileiros: Alessandro Penezzi e Alexandre Ribeiro.
Alexandre Ribeiro, aos 18 anos, foi bacharelando em clarinete na Universidade Estadual Paulista. Seu instrumento soa com a delicadeza das asas de um beija-flor parado no ar, e seu clarone domina a cena com o seu som grave, avassalador.
Alessandro Penezzi, violonista que se dedica especialmente às seis cordas, mas que também toca violão tenor, cavaquinho, bandolim e flauta. Bacharel em música popular pela Unicamp, desde 2005, ele trata o violão com tanto carinho que este o retribui com deferências mil.
Agora, em 2011, os dois se unem em Cordas ao Vento (Capucho CDs Produções Artísticas). Um álbum com 12 faixas, das quais apenas duas, “Famoso” (Ernesto Nazareth) e “Chorinho Triste”, de João Dias Carrasqueira – cuja gravação conta com as flautas de seu filho, Toninho Carrasqueira –, não são de autoria de Penezzi.
Um baião elegante, “Cordas ao Vento”, que dá título ao disco e abre os trabalhos, é homenagem de Alessandro a seu pai, Walkir Penezzi. Como em quase todas as outras 11 interpretações, Penezzi está no violão e Ribeiro, no clarinete. A palheta fraseia junto com as cordas. A harmonia propicia isto. A limpeza sonora demonstra a virtuosidade dos instrumentistas. A dinâmica realça a graça da melodia. E assim eles vão construíndo um disco, céleres e brilhantes. O clarinete capricha, num solo de primeira. O violão carrega nas tintas de uma forte pegada.
“A Caminho de Casa” é um choro dedicado a Paulo Moura. O clarinete puxa a melodia. O violão faz as vezes de mestre de cerimônia (sem tê-la nenhuma!). Ambos os instrumentos se complementam, numa sequência executada em grande estilo. E seguem ressaltando nuances, unindo forças, que se mostram ainda mais joviais num intermezzo movido pela ímpar sonoridade dos dois instrumentos.
“Famoso” (Ernesto Nazareth), cujo violão de Anibal Augusto Sardinha, o talentoso Garoto, eternizou, é vibrante em sua levada meio tango, meio polca, meio maxixe. O clarinete chora no ombro do violão. Juntos, recriam o ambiente dos antigos salões de baile. O suingue contagia.
“Capitão Rodrigo”, choro amaxixado que Penezzi dedicou ao amigo Rodrigo Y Castro, conta com a flauta deste último. Sopro refinado. O pandeiro de Léo Rodrigues segura as pontas. O clarinete de Alessandro Ribeiro se soma ao sete cordas, ao violão e ao cavaco de Penezzi, cujo arranjo bem demonstra a sua versatilidade musical.
“Vá Penteá Macaco”: em uníssono, violão tenor e clarone (que dupla, meu Deus!) dão início à faixa-símbolo da qualidade e da diversidade sonora do CD de Penezzi e Ribeiro. O tenor sola enquanto o clarone pontua (e para que mais?), incendiando a festa, fechando o CD.
Reabri-lo, mais e muitas vezes, é questão de bom gosto e nexo musical.
*Aquiles Rique Reis, musico e vocalista do MPB4
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