sábado, 8 de dezembro de 2012

Endereço da Bateia

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segunda-feira, 5 de março de 2012

Coluna do Aquiles, o CD grupo 5 a seco


5 a seco, um fenômeno

        São cinco jovens, Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinicius Calderoni. Violonistas, além de se revezarem no baixo, na bateria e na percussão, suas primeiras apresentações foram restritas. Mas suas músicas e shows foram parar nas redes sociais. Deu-se o estouro. Saíram das pequenas salas, destinadas aos iniciantes, e ganharam as grandes, privilégio dos consagrados. Impulsionados pelo energético boca a boca, consagraram-se como fenômeno musical.
        Vários predicados permitem o feito: muito ensaio e afinação, improvisar, vocalizar, compor, cantar bem e uma exuberante presença de palco, o que os torna modelos de cobiça para moças e ideais de genro para pais.
        O 5 a seco faz o novo sem precisar apregoar. Carregam em si a marca jovial dos que arriscam. São modernos porque assim são no dia a dia. Vestidos como qualquer jovem da idade deles, parecem-se com eles. Trabalham como se brincassem. Divertem-se enquanto realizam o sonho de serem artistas.
        Acostumados desde pequenos a ouvir boa música, trataram de mixar os sons da infância ao repertório que surgia à frente deles na medida em que cresciam e iam à luta. Suas composições refletem esse universo, e cada um trouxe o seu para o grupo. Letras de poética simples, harmonias e levadas suingadas, que embutem o que escutavam ontem e o que ouvem hoje, fazem suas músicas denotarem a certeza sublime de que a música brasileira, graças a músicos como eles, revigora-se sempre mais.
        Dando continuidade ao pouco tempo de carreira desse grupo paulistano, acaba de ser lançado o DVD 5 a seco  ao vivo no Auditório Ibirapuera (Euforia Produções), que traz um making off do qual participam Dani Black e Ivan Lins, e um CD. Bem cuidado pelo diretor Rafael Gomes, o trabalho tem competente iluminação de Silvestre Jr. e Carol Autran, além de uma cenografia criativa, que inclui diversos varais de metal, daqueles onde se prendem roupas para secar. Em dois desses, no centro do palco, penduram-se os violões, baixos e guitarras; vários outros, na vertical, além de contribuírem para iluminar a cena, parecem-se com pentagramas, posto que lâmpadas pequenas e arredondadas distribuídas entre as hastes sugerem notas semibreves. Belo efeito visual. Sem intromissões, as câmeras circundam o palco, expondo o que sentem os meninos músicos.
        Lotada, a platéia sacode com a apresentação de cada música, tanto quando os cinco estão juntos quanto quando se dividem em duplas ou em trios. A alegria voa solta. A gargalhada vem fácil. O aplauso, generoso. À entrada de cada um dos convidados especiais, Maria Gadú, Lenine e Chico César, o teatro pega fogo. E eles arrasam, com interpretações convincentes, e dão ao show um acréscimo de combustível digno dos anfitriões.
        De resto, os dois Pedros, mais o Tó, o Vinicius e o Leo se mostram artistas prontos. Ainda têm muito a aprender, é claro, mas se hoje já são o que são, crescendo eles serão mais um gigante na música popular brasileira.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

PS. Descanse em paz, grande Peri Ribeiro.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Coluna do Aquiles, o CD instrumental do Quintal Brasileiro


Linha de montagem sonora

        Adriana Holtz toca violoncelo na Orquestra Sinfônica de São Paulo, Ney Vasconcelos, contrabaixista, também é da OSESP, Emerson De Biaggi toca viola na Orquestra da Universidade de Campinas, onde o violinista Esdras Rodrigues também toca, enquanto Luiz Amato toca violino e é professor na Universidade Estadual Paulista.
        Cinco músicos sinfônicos, talentos que também se interessam por música popular, cabeças que se dispõem a revelar o quanto a diferenciação entre uma e outra é restritiva e, por isso mesmo, indesejável. Juntos, decidiram criar o quinteto de cordas (viola, violoncelo dois violinos, e contrabaixo) Quintal Brasileiro – sem preconceito, buscando tocar o que lhe soa como música de qualidade, que mereça ser tocada e ouvida.
        Cinco professores tirando de seus instrumentos o que de melhor podem dar: afinação impecável, pegada certa na hora exata, dinâmica precisa no momento adequado e riqueza na variação do fraseado e das divisões.
        Ao gravar Vibrações (Tratore), seu segundo disco, o Quintal decidiu fundar o que poderia ser chamado de fábrica sonora. Como operários de uma linha de montagem, diligenciaram tocar o que diversos maestros convidados escreveram para eles e seus instrumentos.
        No disco está registrada a concepção musical de seis arranjadores. Luca Raele, por exemplo, transformou o Hino Nacional numa peça sinfônica, na qual pontos e contrapontos passam dos violinos para a viola e desta para o violoncelo, indo ao contrabaixo e voltando novamente a cada um para solos e improvisos.
        “Nítido e Obscuro” (Guinga) destaca o clarinete e o arranjo de Paulo Sérgio Santos, outro a vestir o macacão de operário da oficina de montagem do Quintal. A adaptação do arranjo para cordas é de Luiz Amato, que saboreia misturar intenções sem que se percam as suas origens, a fim de soarem como de fato nasceram para ser: boa música.
        “Vibrações”, clássico de Jacob do Bandolim, conta também com dois chorões/oficineiros da pesada, os irmãos Izaías Bueno de Almeida (bandolim) e Israel Bueno de Almeida (violão de sete cordas), que tocam o arranjo de Mário Záccaro como se estivessem à luz de vela numa roda de choro. As cordas tocam em pizzicato e a eles se juntam na plangente melodia jacobiana, que depois de idas e vindas harmônicas ralenta e vai ao final.
        “Choro Negro”, de Paulinho da Viola, foi revisitada por Nelson Ayres com um arranjo supimpa, enquanto “Someday My Prince Will Come” (Frank Churchill), belo tema do filme Branca de Neve e os Sete Anões, teve arranjo de Luiz Amato – ele que também fez o da “Embolada” dasBachianas Brasileiras Nº 1, de Villa-Lobos, que fecha o bom Vibrações.
        Ao se mostrar capaz de servir a experimentações, dispondo-se a se entregar de mãos e alma aos arranjos concebidos pelos maestros convidados, o Quintal Brasileiro enaltece seu desprendimento e torna-se exemplo de que somando a música popular à erudita, recriando irrestritas belezas na diversidade, seguirá virtuoso.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Coluna do Aquiles, o CD de Mariana Leporace


Mergulho pro fundo

 A música vive hoje o momento das vozes femininas. A sensação que se tem é que a cada dia surge outra moça que canta tão bem quanto a que ouvimos há uma semana. As cantoras se valem de seu arsenal de talento e buscam ampliá-lo por meio da busca do lugar incomum, da trilha ainda a ser aberta. Com atilamento feminino, movidas a música, vão à vida. Cantam temores. Demonstram fortalezas... Mulheres músicas, dignas de suas vozes que hão de distingui-las uma das outras. 
Escrevi este parágrafo ao comentar o CD anterior de Marianna Leporace – ela que agora lança Interior (Mills Records), de onde a água emerge como tema central, como um apelo para que ela conduza ao redescobrimento do desconhecido.
Assim, cada canção deixa no ar o cheiro da maresia, o frescor da brisa matutina. É como se cada verso captasse a tensão do vento terral que sopra suave nas noites quentes, trazendo fogo e paixão à vida e ao ventre.
No disco, Mariana é sereia perscrutando mistérios, e os instrumentistas, marinheiros enfeitiçados pelo seu canto, unidos na busca. Percebendo os rituais que se descortinam no horizonte, deixando-se banhar na espuma do fundo das marés, entregam-se à música na esperança de que respostas venham à tona.
Interior teve direção, produção musical, programações, edição e mixagem a cargo de Paulo Brandão e Emerson Mardhine, assim como deles é a maioria dos arranjos. Um bom trabalho que resulta em alto poder de empatia com quem o escuta.
 “Ar e Vendaval” (Yuri Popoff e Alexandre Lemos). Os tambores ressoam nas mãos dos meninos d’A Parede. Alabês arretados trazem as cordas para a fuzarca. Em meio à folia, Mariana flui serena.
“Gandaia das Ondas” e “Pedra e Areia” (Lenine e Dudu Falcão). Unidas numa só faixa, têm belo arranjo vocal de Mauro Perelmann cantado pelo trio Folia de 3 (Mariana Leporace, Eliane Tassis e Cacala Carvalho).
“Carrossel” (Emerson Mardhine e Alexandre Lemos). Apenas uma clarineta (Andy Connell) e um violão (Emerson Mardhine) bastam para amplificar a quietude da melodia. Mariana desvela sua intenção em graves e agudos bem colocados.
“Água, Mãe e Água” (João Bosco). A percussão (Murilo O’Reilly) impacta. O baixo (Paulo Brandão) pontifica. Mariana faz duo com ela mesma, arrasa. Convidado a cantar, João Bosco demonstra suas qualidades de cantor diferenciado, brilha.
“Sereia e Marinheiro” (Emerson Mardhine e Etel Frota). Com arranjo de Marcos Alves, o acompanhamento do quarteto de violões Maogani dá força à melodia e sabor aos versos. Como uma irresistível sereia, Mariana canta suave.
“Perdido no Meio das Ondas” (Daniel Gonzaga). O sax (Andy Connell) reforça as notas. A percussão e as programações refletem o brilho das águas navegadas por Mariana e sua voz.
Ao final, “Vento Bravo”, clássico de Edu Lobo e Paulo César Pinheiro. Numa levada diferente da criada por Edu, o arranjo imprime ainda maior ansiedade à música. Ótimo!
Em Interior, Mariana usa a voz para navegar na ousadia de se revelar.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

PS. Lá se foi mais um colega. Descanse em paz, Wando.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Coluna do Aquiles, o CD de Ladston do Nascimento, cantor e compositor mineiro


A maturidade incontestável de um compositor e cantor
           

Desde o lançamento do LP Vida e dos CDs Anjim Barroco Simbora, João! até Lugarzim(Fina Flor), já lá se vão mais de vinte anos da carreira de Ladston do Nascimento.
           Com esse trabalho, o compositor, cantor e violonista belo-horizontino chegou a um estágio em que sua competência está à flor da pele, apta a atingir o momento da plenitude, a integridade tão desejada pelo músico quanto pelo seu público, todos ansiando pelo instante que definirá a ultrapassagem de ser visto apenas como uma grande promessa para a percepção de que ele chegou ao ponto só alcançado pelos bambas.
           À concretude: Ladston do Nascimento realizou seu rito de passagem. Amadurado, cantor de espantosos recursos vocais, artista que percebe como poucos o sentido da mineirice que corre nas veias de sua gente, transformando-a em canções que a representa e identifica, fez-se o grande compositor e cantor que muitos apostavam que haveria de ser. 
           Produzido por Jota Souza (que também toca piano e vibrafone, além de ser o arranjador de quatro faixas), o CD tem outros arranjadores igualmente experientes: o próprio Ladston (que também toca violão), Francis Hime e Túlio Mourão (os dois também tocam piano). Conta igualmente com uma faixa em que Ladston é o autor da música e da letra, além de parcerias suas com outros letristas/poetas: Antônio Martins, Fernando Brant e Tadeu Franco.
           A fim de dar vida às músicas e prepará-las para que Ladston as cantasse com sua voz de pássaro das noites de luar mineiras, grandes instrumentistas foram chamados: a bateria e a percussão de Robertinho Silva, os violões de Daniel Santiago e de Marco Pereira, as flautas de Andrea Ernest e de Dirceu Leite, o trompete de Altair Martins, os baixos de Guto Wirtti, André Vasconcellos e Pedro Aune, o cello de Iura Ranevsky, o piano de David Feldman, a clarineta de Pedro Paes e o vibrafone de Gabriel Guenther.
           Quem ouve Ladston do Nascimento cantar pela primeira vez espanta-se: ele canta como Milton Nascimento cantou quando subiu no palco do Maracanãzinho para defender “Travessia”, dele e Fernando Brant, em 1967. A voz de Ladston é igualmente límpida em sua agudeza, e seu sentimento transborda em delicadezas que impregnam as notas sem, entretanto, se afastar uma coma sequer da afinação.
           O álbum começa com “O circo do Miudinho” (Ladston e Antônio Martins). A introdução, cantada por coro misto, arrepia pela energia que transmite e também por trazer à mente outro coro, o de “Sentinela” (Milton e Fernando Brant). A percussão de Robertinho e o dedilhado do piano de Túlio Mourão dão ainda mais tensão ao canto. Ladston brilha densamente
           Outras faixas vêm plenas de unidade e de deferência à música das Minas Gerais. Canções tributos de um craque à sua terra e aos conterrâneos que o antecederam musicalmente.
           Em Lugarzim, a música de Gladston do Nascimento brilha como o reflexo do minério faísca pelas estradas e caminhos de todos os mineiros.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Coluna do Aquiles, o CD instrumental de João Parahiba


A locomotiva rítmica do samba-jazz

           João Parahyba é um dos maiores bateristas brasileiros. Seu DNA rítmico nasceu da forma como tocava timba. Isso quando ele integrou o Trio Mocotó, junto com Fritz Escovão e Nereu Gargalho, nos anos 1960: três sambistas que, sem perder de vista o jazz e o rock, proporcionaram novos ares ao nosso velho e bom ritmo.
           Ao se desligar do trio, em 1973, João parecia ter também desencanado da música. Nada disso. Sete anos depois ele estava de volta. Suas baquetas seguiam tão surpreendentes como antes. Sua veia de misturador de gêneros fervia mais do que sempre: samba-rock, samba-jazz, samba, rock, jazz, tudo junto e misturado a um só tempo, o suingue de cada um desses gêneros brotando aos borbotões.
           Em 2000, ao retomar o trabalho com o Trio Mocotó, Parahyba aqueceu as mãos e retomou o gosto pelas coisas das batidas diferentes, até que, anos mais tarde (2009), convidou Beto Bertrami (pianista), Rudy Arnaut (guitarrista), Giba Pinto (contrabaixista), Ubaldo Versolatto (saxofonista e clarinetista) e Janja Gomes (reprocessamento e samples) e com eles formou o João Parahyba Sexteto, que lançou o CD O samba no balanço do jazz (selo Sesc SP).
           Para tocar temas que marcaram a música brasileira instrumental dos anos 1930, como “O Trenzinho do Caipira”, de Heitor Villa-Lobos, e dos anos 1960, como “Nanã” (Moacir Santos), “Sambou, Sambou” (João Donato), “Batida Diferente” e “Estamos Aí” (Maurício Einhorn e Durval Ferreira), o sexteto de João Parahyba convidou outros grandes instrumentistas: Tiago Costa (pianista e arranjador), Clayber de Souza (gaitista), Nailor Proveta (clarinetista), Teco Cardoso (saxofonista e flautista), Marcelo Mariano (baixista) e Rodrigo Lessa (bandolinista). A esse repertório se somaram três composições do próprio João Parahyba, uma de Laércio de Freitas (cujo arranjo é do próprio Laércio), outra de Gilberto Pinto, outra de Janja Gomes, outra de Amilton Godoy (cujo arranjo é do próprio Godoy), outra de Rodrigo Lessa e Eduardo Neves e uma de Marcos Romera.
 Para realçar suas interpretações, os instrumentistas se revezam em meio a saborosos improvisos jazzísticos, aprazem-se com as requintadas melodias e vez por outra se juntam para sonorizar o conceito que se traduz na tal mistura do chiclete com banana apregoada por Jackson do Pandeiro: harmonia de gêneros musicais universais e complementares (sem antagonismos e posturas xenófobas) da cintura brasileira. O resultado dessa união de genialidades é um samba elevado à máxima potência.  
          Em cada faixa tem-se a forte presença da bateria de João, que toca como um trem que, com suas rodas unidas a dois eixos que vão e vem, soa a batida ideal para a levada do ritmo. Os outros instrumentos viajam juntos na fantasia.
          Xique-xique-tic-tic-xique-xique-tic-tic, vai o trem abrindo caminho, com João Parahyba e seu talento inconteste à frente, avivando o som musical da alegoria. O trenzinho segue delirante... O samba-jazz está com ele.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Coluna do Aquiles, o CD de Rafael Altério


Milagreiros, graças a Deus

        “Elegbá veio, sou eu, elegbá, laroê/ Com Zumbi que veio de elegbá/ Pode tu, Zumbi Bará, pode ir/ Pode ir lá/ Que teu povo veio chamar”, versos de “Zumbi Bará” (Rafael Altério e Paulo César Pinheiro). Assim canta Rafael Altério, abrindo seu CD Santo de Casa (independente, com patrocínios). Aceitando o chamamento, levou consigo sua brasilidade e seus santos de casa: amigos de fé, músicos de boa cepa, todos integrados no papel de solidificar a mistura da sonoridade harmônica com o fervor rítmico, resultando em música de brasileira qualidade.
        Para tanto, contribuem os arranjos – a maioria de Rafael Altério (a direção artística é dele e de Celso Viáfora) – e as percussões, principalmente quando estão nas mãos de Kleber Benigno (Paturi), Márcio Jardim e Nazaco Gomes, os meninos paraenses do Trio Manari. Aos tambores amazônicos se juntam as teclas dos pianos (Paulo Calazans, Breno Ruiz e Rafael Altério), o acordeom (Breno Ruiz), a bateria (Gabriel Altério), a flauta (Teco Cardoso), as cordas dos violões (Luiz Ribeiro, Dani Black, Pedro Altério, Dani Altman e Rafael Altério), o baixo (Marcelo Mariano), a guitarra (Léo Amuedo e Dani Black) e o cello (Mariza Silveira). Toda essa gama infinita de sons vigorosos dá a Rafael o direito de impor com dignidade o seu vozeirão – sua voz tem o seu tamanho. Cercado de amigos, desde os instrumentistas até o coro feminino, ele não poderia deixar de também trazer para perto de si os parceiros letristas, Paulo César Pinheiro, Celso Viáfora, Joãozinho Gomes, Breno Ruiz e Rita (esposa) e Pedro Altério (filho). Todos santos da casa dos Altério, milagreiros, graças a Deus.
        Ao ouvir as onze faixas do CD, entende-se perfeitamente o que Rafael quer com a música e o que ele ambiciona alcançar com ela: para Altério, música é missão cultural. Sabedor de tamanha exigência para consigo próprio e para com sua obra, trata de criá-la como quem concebe um filho.
        A pegada da pele dos tambores está presente em quase todas as faixas. Com o balanço comendo solto, impossível aquietar o esqueleto. E segue o som, até que chega um momento de calmaria: André Mehmari tocando ora piano acústico, ora acordeom, e Rafael cantando, dele e Rita, “Flor de Rio”.
        Logo a seguir, “Quando o Galo Cantar”, também dos dois. Os tambores do Manari e a flauta pontuam o início do canto. O pandeiro (Douglas Alonso) tem vez e segue até que o violão de aço, a bateria e o baixo, este com uma puxada de intensa pujança, juntem seu som à voz. A caixa da bateria conduz agora. O coro feminino reforça. O violão e a flauta fazem breve intermezzo. A melodia volta com Rafael e o coro... Meu Deus!       
        É a hora do sincretismo musical/religioso/afetuoso de Altério se despedir. E ele canta a letra de Joãozinho Gomes para “Camarada de Ogã”: “Vou pela manhã, tô indo agora/ O dia raiou fora de hora/ Vai junto de mim/ São Sebastião crivado/ São Bartolomeu irá ao meu lado”.
        A casa dos santos de Rafael Altério está aberta.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4