segunda-feira, 4 de abril de 2011

Coluna do Aquiles, a caixa com três CDs de Johnny Alf

Johnny Alf para presente

Johnny Alf – Entre amigos (Lua Music) é um presente para os que tiveram o privilégio de ouvi-lo. Uma caixa com três discos com o mesmo objetivo, cada um à sua maneira: homenagear o grande compositor, instrumentista e cantor.
Com concepção e seleção de repertório de Thiago Marques Luiz e Nelson Valencia, o primeiro álbum, Johnny Alf ao vivo e à vontade com seus amigos, contém gravações ao vivo de Alf com alguns convidados ilustres. Com Cida Moreira, os dois ao piano, Johnny Alf canta “A Noite do Meu Bem”. Com sua voz poderosa, Cida contrasta com a delicadeza vocal de Alf. Tudo a ver. Emocionados, renovam a emoção presente na obra-prima de Dolores Duran. Na pouca conhecida, mas bela, “Nós” (Johnny Alf), Leny Andrade amplia sua bossa com ótimas divisões e afinação impecável. Guitarra, bateria e baixo a acompanham com simplicidade, que é o que pede a modernidade harmônica de Alf.
No segundo disco, Em Tom de Canção (título de uma canção de Alf), Alaíde Costa se responsabilizou por escolher o repertório e interpretá-lo do jeito que só ela é capaz de fazer. Seus agudos seguem firmes. Sua respiração dá aos versos e às notas a precisão com as quais foram concebidas pela genialidade do homenageado. Assim, em dez faixas produzidas por Thiago Marques Luiz, ela se desdobra e passeia através do que marcou a fantástica trajetória musical de Johnny Alf. Sensibilidade.
Johnny Alf por seus amigos é o terceiro CD. Produzido por Thiago Marques Luiz, dezesseis intérpretes capricham em homenagens a Johnny Alf. Acompanhada por piano, baixo, bateria e guitarra, com arranjo de Giba Estebez, Wanderléa faz reverente versão para o clássico “Ilusão à Toa” (Johnny Alf). Sua voz contida vai aos versos com elegante veemência. A levada bossa nova se ampara na pegada sutil dos instrumentos. Gostoso de ouvir. E Zé Renato dá sua voz afinada a “Céu e Mar” (Johnny Alf). O samba suinga. O piano pontua. A bateria é fina. O baixo marca. Apenas tudo isso.
Johnny Alf, carioca de Vila Isabel, veio ao mundo Alfredo José da Silva. De família humilde, tinha tudo para repetir a trajetória da criança pobre, órfão de pai, de um subúrbio qualquer. Não repetiu.
A música clássica disputava a preferência do menino com os grandes compositores americanos, principalmente os que compunham para cinema: George Gershwin e Cole Porter.
As músicas norte-americanas e brasileiras, tão diversificadas e ricas, foram fontes onde Alf bebeu da água cristalina que desce do morro em gingas sutis e se encontra com o improviso libertário do jazz. A sutileza e a liberdade entraram em suas veias.
Johnny Alf esteve sempre vários acordes à frente de seu tempo. Suas composições, seu piano, suas melodias e frases musicais são socos no estômago de quem duvidava de que pudesse ser genial o brasileiro que, desafiando preconceitos artísticos e musicais, criaria raras e infindas belezas. Gotas d’água num mar de notas de um teclado tão limpo e preciso quanto genial.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

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