Eu o saúdo, Cauby Peixoto!
Filho de um violonista, Elisário Peixoto, e de uma bandolinista, Alice Carvalho; irmão das cantoras Andiara e Iracema, de Araquém, o pistonista, e de Moacir, o pianista; primo do cantor Ciro Monteiro; sobrinho de Nonô, o pianista; tio de Dalmo Medeiros (um filho de Iracema), vocalista do MPB4, e da cantora Adriana Peixoto, Cauby Peixoto veio ao mundo para brilhar. E de tantos brilhos se vestiu que o mundo logo passou a ser seu enorme e reverente camarim.
Quando ele nasceu, Niterói o recebeu disposto a tê-lo como um filho que vai à vida, mas ao seu berço sempre volta. Dizem (não sei bem ao certo, porque não vi) que Cauby quando veio à luz não chorou, chegou iluminado por purpurinas, vestido com cetins e cantando “Conceição, eu me lembro muito bem”.
Pois foi num fevereiro, mês que é sinônimo de Carnaval, foi num remoto fevereiro de um ano que não se mede em luas, mas em acordes, que Cauby Peixoto Barros veio a nós para nos contagiar com sua voz.
Quando ele cresceu, o Brasil, a quem Niterói o concedeu, fez dele seu ídolo inconteste. Espelhos espalhados pelos quatro cantos revelavam o rosto de quem cantava para que todos nele se escutassem e se revelassem. E o rádio levava sua voz a quem quisesse ouvir, as revistas levavam sua imagem hollywoodiana a quem quisesse ver. E não houve quem não visse ou ouvisse aquele que trouxe consigo o dom de fulgurar.
Fulgurantes todos nós que ouvimos hoje aquele mesmo Cauby que desde sempre nos acostumamos a ouvir. Reverente ao seu talento, somo meu desejo ao de tantos outros: que sua voz não nos falte, você acalenta a nossa alma a cada dia.
Reflexos que somos de você que nos representa com seu dom, nós lhes damos hoje algo que não são meros escambo ou presente, mas uma retribuição por tudo o que de sua voz usufruímos (sem que você sequer suspeite, pois de nós nunca soube o rosto nem de nossas almas a aflição).
Que seu camarim, Cauby, esteja sempre iluminado pelas estrelas das noites cantadas em prosa e verso, e pelo sol de cada dia que nos ilumina. Que dos seus espelhos se reflitam imagens de uma glória eterna, já que você está no interior da alma de cada brasileiro que pôde conhecê-lo.
Inicialmente personificado nas ondas do rádio, Cauby Peixoto, que continua presente, ainda hoje, em CDs, DVDs e livros, ao comemorar seus oitenta anos de vida, está em meio a uma temporada de enorme sucesso no Bar Brahma, no centro da capital paulista. Coisa nossa é este grande intérprete que canta melhor a cada noite.
Todos nós daríamos agora mesmo mais de um milhão para termos sua eterna “Conceição” (o extraordinário sucesso de Jair Amorim e Dunga) para sempre viva em nossos ouvidos e mentes.
Saiba, Cauby, que os ídolos não podem fechar o camarim onde se vestem e se transmudam naquele que nos permite crer que uma das saídas para nossos males é fazer com que o belo pareça ser coisa nossa (como se fôssemos todos capazes de fazer igual). Viva para sempre, Cauby Peixoto!
Aquiles Rique Reis, músico e integrante do MPB4