A
locomotiva rítmica do samba-jazz
João
Parahyba é um dos maiores bateristas brasileiros. Seu DNA rítmico nasceu da
forma como tocava timba. Isso quando ele integrou o Trio Mocotó, junto com
Fritz Escovão e Nereu Gargalho, nos anos 1960: três sambistas que, sem perder
de vista o jazz e o rock, proporcionaram novos ares ao nosso velho e bom ritmo.
Ao
se desligar do trio, em 1973, João parecia ter também desencanado da música.
Nada disso. Sete anos depois ele estava de volta. Suas baquetas seguiam tão
surpreendentes como antes. Sua veia de misturador de gêneros fervia mais do que
sempre: samba-rock, samba-jazz, samba, rock, jazz, tudo junto e misturado a um
só tempo, o suingue de cada um desses gêneros brotando aos borbotões.
Em
2000, ao retomar o trabalho com o Trio Mocotó, Parahyba aqueceu as mãos e
retomou o gosto pelas coisas das batidas diferentes, até que, anos mais tarde
(2009), convidou Beto Bertrami (pianista), Rudy Arnaut (guitarrista), Giba
Pinto (contrabaixista), Ubaldo Versolatto (saxofonista e clarinetista) e Janja
Gomes (reprocessamento e samples) e com eles formou o João Parahyba
Sexteto, que lançou o CD O samba no balanço do jazz (selo Sesc
SP).
Para
tocar temas que marcaram a música brasileira instrumental dos anos 1930, como
“O Trenzinho do Caipira”, de Heitor Villa-Lobos, e dos anos 1960, como “Nanã”
(Moacir Santos), “Sambou, Sambou” (João Donato), “Batida Diferente” e “Estamos
Aí” (Maurício Einhorn e Durval Ferreira), o sexteto de João Parahyba convidou
outros grandes instrumentistas: Tiago Costa (pianista e arranjador), Clayber de
Souza (gaitista), Nailor Proveta (clarinetista), Teco Cardoso (saxofonista e
flautista), Marcelo Mariano (baixista) e Rodrigo Lessa (bandolinista). A esse
repertório se somaram três composições do próprio João Parahyba, uma de Laércio
de Freitas (cujo arranjo é do próprio Laércio), outra de Gilberto Pinto, outra
de Janja Gomes, outra de Amilton Godoy (cujo arranjo é do próprio Godoy), outra
de Rodrigo Lessa e Eduardo Neves e uma de Marcos Romera.
Para realçar suas interpretações, os
instrumentistas se revezam em meio a saborosos improvisos jazzísticos,
aprazem-se com as requintadas melodias e vez por outra se juntam para sonorizar
o conceito que se traduz na tal mistura do chiclete com banana apregoada por Jackson
do Pandeiro: harmonia de gêneros musicais universais e complementares (sem
antagonismos e posturas xenófobas) da cintura brasileira. O resultado dessa
união de genialidades é um samba elevado à máxima potência.
Em cada faixa tem-se a forte presença da bateria de João, que toca como um trem
que, com suas rodas unidas a dois eixos que vão e vem, soa a batida ideal para
a levada do ritmo. Os outros instrumentos viajam juntos na fantasia.
Xique-xique-tic-tic-xique-xique-tic-tic,
vai o trem abrindo caminho, com João Parahyba e seu talento inconteste à
frente, avivando o som musical da alegoria. O trenzinho segue delirante... O
samba-jazz está com ele.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4