Dez Cordas do Brasil (lançamento do selo Repique Brasil, do cantor, instrumentista e arranjador Chico Adnet, ele que é também o produtor executivo do trabalho) é o primeiro CD instrumental solo do compositor, instrumentista e arranjador Jaime Alem.
Nascido no interior paulista, Jaime conviveu com o sabor das coisas simples, das quais absorveu o saber profundo do que é ser de algum lugar, do que é pertencer a uma aldeia, nela se fortalecendo até partir, para botar a boca no mundo e o pé na estrada, e, enfim, perder-se até ganhar a vida.
A viola de dez cordas tem o som do mundo. Nele, árabes e nordestinos, portugueses e mineiros têm o mesmo linguajar. Nele, o ponteado é do campo e é da cidade; suas modas vêm de raízes rasas e profundas; seu dedilhar traz o cateretê e o maxixe, a ciranda e o calango. Seu toque é inconfundível. Mas por vezes, para a ele agregar novas sonoridades, Jaime se valeu de uma viola de doze e de um violão de seis cordas de náilon.
Para gravar seu disco, treze imagens vieram-lhe à cabeça e logo se materializaram na ponta dos dedos: uma barcaça desce um rio, na proa vislumbra-se um violeiro; o cheiro de um bolinho de arroz recheado com pedaços de toucinho atiça o desejo; dançarinos brincam na roda de uma ciranda em Parati; na Estação da Luz paulistana, violeiros esmoleiros, ao som de uma viola tosca, com apenas uma corda, passam o chapéu; um cheiro sugere Minas Gerais; a lembrança de um guitarrista; a mó macetando grãos; a fiandeira tecendo na roca; Minas e Pernambuco, uma só beleza; um violeiro brabo impõe respeito aos roqueiros de uma cidadezinha do interior; um berimbau tocado sobre a perna; uma Ave-Maria nascida ao acaso; um agalopado a tudo carrega para longe, sem pressa...
E assim, feito parto natural, doloroso, rápido, comovente e tocante, as treze peças nasceram sob a vivacidade da emoção relembrada.
O ponteando da viola faz de “Costeira do Rio” um símbolo do que virá; “Pracatugudum” é samba rural suingado e malicioso; “Moda de Uma Corda Só” tem rica linha melódica tocada em apenas uma corda e surpreende com a referência a “1x0”, o famoso choro de Pixinguinha; “Sonata do Agreste” é pungente em sua mistura de climas e andamentos; “Moenda” e “Romance da Moura”, plenas de improvisos e de contrapontos, se complementam, talvez pudessem ser uma única música; “Ave Maria das Violas” é cantada emocionadamente, com a letra original em latim, por Jaime Alem.
Dez Cordas do Brasil confirma o quão viscerosa é a viola de dez cordas para Alem. Foi a partir do contato dela com seu peito, já dentro de um estúdio (onde entrou sem sequer uma composição pronta), que numa catarse musical-afetiva pôs-se a desarrumar emoções, saudades e lembranças. Desfragmentou-as a partir da estética sonora de um instrumento singular, tão familiar quanto íntimo. Assim foi criado o repertório que gravou, simples e instigante como um tênue fluxo de luz filtrado de uma nuvem escura no céu agreste.
*Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
Diário do Comércio (SP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e no Brazilian Voice (uma publicação voltada para os brasileiros residentes em toda costa leste dos EUA).
Nascido no interior paulista, Jaime conviveu com o sabor das coisas simples, das quais absorveu o saber profundo do que é ser de algum lugar, do que é pertencer a uma aldeia, nela se fortalecendo até partir, para botar a boca no mundo e o pé na estrada, e, enfim, perder-se até ganhar a vida.
A viola de dez cordas tem o som do mundo. Nele, árabes e nordestinos, portugueses e mineiros têm o mesmo linguajar. Nele, o ponteado é do campo e é da cidade; suas modas vêm de raízes rasas e profundas; seu dedilhar traz o cateretê e o maxixe, a ciranda e o calango. Seu toque é inconfundível. Mas por vezes, para a ele agregar novas sonoridades, Jaime se valeu de uma viola de doze e de um violão de seis cordas de náilon.
Para gravar seu disco, treze imagens vieram-lhe à cabeça e logo se materializaram na ponta dos dedos: uma barcaça desce um rio, na proa vislumbra-se um violeiro; o cheiro de um bolinho de arroz recheado com pedaços de toucinho atiça o desejo; dançarinos brincam na roda de uma ciranda em Parati; na Estação da Luz paulistana, violeiros esmoleiros, ao som de uma viola tosca, com apenas uma corda, passam o chapéu; um cheiro sugere Minas Gerais; a lembrança de um guitarrista; a mó macetando grãos; a fiandeira tecendo na roca; Minas e Pernambuco, uma só beleza; um violeiro brabo impõe respeito aos roqueiros de uma cidadezinha do interior; um berimbau tocado sobre a perna; uma Ave-Maria nascida ao acaso; um agalopado a tudo carrega para longe, sem pressa...
E assim, feito parto natural, doloroso, rápido, comovente e tocante, as treze peças nasceram sob a vivacidade da emoção relembrada.
O ponteando da viola faz de “Costeira do Rio” um símbolo do que virá; “Pracatugudum” é samba rural suingado e malicioso; “Moda de Uma Corda Só” tem rica linha melódica tocada em apenas uma corda e surpreende com a referência a “1x0”, o famoso choro de Pixinguinha; “Sonata do Agreste” é pungente em sua mistura de climas e andamentos; “Moenda” e “Romance da Moura”, plenas de improvisos e de contrapontos, se complementam, talvez pudessem ser uma única música; “Ave Maria das Violas” é cantada emocionadamente, com a letra original em latim, por Jaime Alem.
Dez Cordas do Brasil confirma o quão viscerosa é a viola de dez cordas para Alem. Foi a partir do contato dela com seu peito, já dentro de um estúdio (onde entrou sem sequer uma composição pronta), que numa catarse musical-afetiva pôs-se a desarrumar emoções, saudades e lembranças. Desfragmentou-as a partir da estética sonora de um instrumento singular, tão familiar quanto íntimo. Assim foi criado o repertório que gravou, simples e instigante como um tênue fluxo de luz filtrado de uma nuvem escura no céu agreste.
*Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4